Bolsa Europeia: Oportunidades que os investidores estão a deixar passar

Por que falar da bolsa europeia agora?

Durante anos, muitos investidores olharam para Wall Street enquanto ignoravam as oportunidades que se geram do outro lado do Atlântico. A realidade é que a bolsa europeia não é um mercado único, mas um ecossistema de praças bolsistas nacionais e regionais —Londres, Frankfurt, Paris, Madrid, Amesterdão— que funcionam sob regulações próprias mas interconectadas. Essa rede de mercados inclui instituições tão relevantes como Euronext, a Bolsa de Valores de Londres e SIX da Suíça.

O interessante é que o panorama está mudando. Enquanto muitos veem a Europa como um mercado secundário, os dados sugerem exatamente o oposto.

O contexto atual: três factos que definem o mercado

Inflação controlada mas tipos de juro persistentes

Os bancos centrais europeus conseguiram reduzir a inflação de forma sustentada em quase toda a Europa Ocidental, mas o crescimento económico continua desigual conforme o país. Os dados do Deutsche Bank confirmam essa tendência: embora a inflação recue, os tipos de juro permanecerão elevados por mais tempo. Isto tem um lado positivo para o setor financeiro, embora pressione as avaliações das tecnológicas.

Debilidade económica relativa

A normalização pós-pandemia e a situação na Ucrânia geraram incerteza sobre se a Europa enfrenta um aterragem suave ou mais dura. Os índices PMI (tanto de manufatura como de serviços) na zona euro e no Reino Unido situam-se abaixo de 50, indicando fraqueza na atividade económica presente.

Emprego resiliente e rendimentos em alta

Apesar dos tipos de juro mais altos, a taxa de desemprego na zona euro atingiu mínimos históricos de 6,4% durante o verão. O crescimento salarial anual está em 4,6%, superando a inflação. Essa força laboral deve sustentar o gasto de consumo, o que significa que a Europa pode ser a primeira região a sair do ciclo de ajuste monetário.

Os índices principais: a sua porta de entrada na bolsa europeia

Para os investidores retalho, rastrear dezenas de mercados e centenas de empresas é praticamente impossível. Por isso existem os índices bolsistas: agrupamentos ponderados por capitalização de mercado que refletem o comportamento agregado dos valores em cada praça.

DAX 40: o termómetro da Alemanha

Representa as 40 maiores empresas cotadas na Bolsa de Frankfurt. Com um rendimento de 6,82% em 2023, o DAX 40 é amplamente seguido como indicador da saúde económica alemã. Na sua composição figuram Volkswagen, Siemens, Adidas, Mercedes Benz e Deutsche Bank. Como a Alemanha é a maior economia da Europa, os movimentos do DAX 40 costumam antecipar tendências continentais.

FTSE 100: a britânica sob pressão

O índice de Londres acompanha o performance das 100 maiores capitalizações do mercado britânico, representando aproximadamente 80% do valor total da Bolsa de Valores de Londres (LSE). Empresas como AstraZeneca, Unilever, Vodafone, BP e Rio Tinto compõem-no. No entanto, com uma rentabilidade negativa de 1,27% em 2023, foi o pior desempenho europeu devido às dificuldades económicas do Reino Unido.

Euro Stoxx 50: diversificação genuína

Este índice acompanha as 50 empresas líderes da zona euro, abrangendo 11 países e múltiplos setores: banca, energia, tecnologia e bens de consumo. A sua composição inclui nomes como Airbus, LVMH, TotalEnergies, ASML e Santander. Alcançou uma rentabilidade de 6,45% em 2023 e funciona como subjacente para ETF, futuros e opções.

IBEX 35: o melhor desempenho

O índice de referência da Bolsa de Madrid seguiu as 35 empresas mais líquidas. Com uma rentabilidade de 9,72% em 2023, foi o melhor índice europeu (praticamente ao par com o S&P 500 norte-americano que obteve 9,82%). Integram-no BBVA, Inditex, ArcelorMittal, Iberdrola e Repsol.

CAC 40: França na linha

Reflete as 40 ações principais da Euronext Paris entre as 100 maiores capitalizações. Empresas como Alstom, BNP Paribas, L’Oreal, Renault e Stellantis compõem-no. A sua rentabilidade em 2023 foi de 5,29%, mostrando um desempenho moderado no contexto europeu.

Porque a bolsa europeia é um caso subvalorizado?

A transformação setorial é real

Desde a crise de 2008-2009, a composição da bolsa europeia mudou radicalmente. Entre 2010 e 2023:

  • Setores em expansão: Industrial (11,3% → 15,0%), Cuidados de Saúde (9,7% → 16,1%), Consumo Discricionário (8,9% → 11,3%), Tecnologia da Informação (2,9% → 6,7%)
  • Setores em contração: Financeiro (21,1% → 17,5%), Materiais (11,0% → 6,9%), Energia (10,9% → 6,0%), Telecomunicações (6,5% → 3,1%)

Este reequilíbrio evidencia como a bolsa europeia está a evoluir, embora lentamente.

Mais equilibrada que os Estados Unidos

Aqui reside uma descoberta crucial: enquanto que o setor tecnológico pesa quase 30% nos Estados Unidos, na bolsa europeia alcança apenas 6,7%. Isto significa que nenhum setor tem um peso desproporcional, o que gera um desempenho mais estável e previsível. Qualquer crise setorial impactará menos a Europa do que a economia norte-americana. Para investidores que procuram estabilidade através de índices, isto é ideal.

Rendas globalizadas

Quase 60% das receitas das empresas cotadas na bolsa europeia provêm de fora da Europa. Enquanto em 2012 o 61% vinha do solo europeu, em 2023 baixou para 42%. O resto vem da América do Norte (26%) e Mercados Emergentes (25%, incluindo América Latina e África). Isto significa que está a investir em empresas verdadeiramente globais com exposição ao crescimento mundial.

Valorações atrativas em múltiplos setores

Em setembro de 2023, sete dos dez setores principais apresentavam rácios P/E abaixo da sua média de 10 anos. Estamos a falar de telecomunicações, consumo discricionário, bens de consumo básico, energia, finanças, materiais e serviços básicos. Isto reflete a desaceleração económica, mas também cria oportunidades: quando a região sair do ciclo de aumentos de tipos de juro (esperado para Q2-Q3 2024), estas valorações poderão comprimir-se significativamente.

O caso da ASML: por que a bolsa europeia tem joias ocultas

Embora seja verdade que não há um Apple, Google, Meta ou Netflix originário da Europa, isto não significa que não existam oportunidades tecnológicas. A ASML, com sede nos Países Baixos e avaliada em mais de 215 mil milhões de euros, produz sistemas semicondutores avançados para fabricantes de chips em todo o mundo. Em tempos de guerra comercial entre Estados Unidos e China, a ASML ocupa uma posição estratégica única. Este é apenas um exemplo de como a bolsa europeia alberga empresas de relevância global.

O veredicto: vale a pena investir?

Os riscos geopolíticos na Europa são consideráveis: guerra na Ucrânia e conflitualidade no Médio Oriente que afeta o mercado petrolífero. No entanto, a economia europeia manteve-se forte dentro da sua desaceleração controlada.

Segundo a análise de especialistas como Aaron Barnfather da Lazard Asset Management, o desconto de avaliação da Europa face aos mercados globais e especialmente perante os Estados Unidos deverá diminuir. Esta paradoxa provavelmente não continuará indefinidamente. Os mercados bolsistas podem exceder-se nas suas avaliações, mas as correções eventualmente chegam.

A bolsa europeia apresenta avaliações interessantes em múltiplos setores, maior diversificação que a sua contraparte norte-americana, e empresas com receitas verdadeiramente globalizadas. Tudo isto, combinado com a expectativa de redução de tipos de juro nos próximos trimestres, sugere que os investidores devem reconsiderar as suas suposições anteriores sobre o mercado europeu.

A questão não é se investir na bolsa europeia, mas quando começar a fazê-lo.

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