O euro viveu em 2025 uma fase notável de valorização: de 1,04 USD no início do ano para 1,16 USD atualmente – um aumento de mais de 13%. Mas será que esta dinâmica pode continuar ou o par de moedas se encaminha para uma consolidação? A nossa análise mostra: a resposta está no campo de tensão entre três forças concorrentes.
Onde está atualmente o EUR/USD – e como chegou lá?
Os movimentos foram turbulentos: o EUR/USD registou em janeiro um mínimo de 1,0243 (mínimo de 20 anos), depois disparou em abril e marcou em meados de setembro um máximo de 1,1868. Com a cotação atual de 1,16, o par estabiliza-se após ter percorrido uma faixa de negociação de mais de 1.600 pips.
O que impulsionou o euro para cima?
Vários fatores atuaram em sincronia: a política agressiva de tarifas de Trump, cortes de taxas de juros claros pelo Fed, taxas de juros estáveis pelo BCE e o pacote de infraestrutura de 500 mil milhões de euros na Alemanha criaram uma configuração favorável ao euro. Assim, o par rompeu uma tendência de baixa que vinha desde 2014 – um sinal técnico com efeito de sinalização.
Pontos de orientação técnica para traders:
Para cima: a zona 1,1800-1,1920 funciona como resistência importante. Uma quebra acima de 1,20 poderia abrir caminho para 1,22-1,25.
Para baixo: suportes situam-se em 1,1550 e 1,1470. Uma quebra abaixo de 1,15 colocaria em dúvida o cenário de alta e poderia desencadear quedas em direção a 1,10-1,12.
O núcleo da valorização: diferenças de juros e sua mecânica
O principal argumento para uma maior força do euro é: diferenças de juros. O Fed cortou ao todo 50 pontos base em setembro e outubro e sinaliza novos cortes para 3,4% até o final de 2026. O BCE já concluiu seu ciclo de redução – a taxa de depósito permanece em 2,00% desde junho.
A lógica matemática:
Historicamente, uma redução de 100 pontos base na diferença de juros leva a uma ajustamento cambial de 5-8%. Com a diferença atual, o EUR/USD poderia subir de 1,16 para 1,22-1,25. Alguns analistas até consideram que o BCE pode sinalizar aumentos de juros em 2027, caso os estímulos na Alemanha deem frutos. Isso reforçaria ainda mais o efeito.
O outro lado da moeda: por que o euro também poderia fraquejar
Resiliência econômica dos EUA
O crescimento do PIB dos EUA atingiu em Q2 de 2025 um forte 3,8%, impulsionado por investimentos massivos em IA. Ao mesmo tempo, o governo garantiu compromissos de investimento na casa dos bilhões através de negociações tarifárias:
TSMC constrói três fábricas de chips no Arizona (165 bilhões de USD)
Samsung investe 44 bilhões de USD no Texas
Intel expande na Ohio (20 bilhões de USD)
A “One Big Beautiful Bill Act” de 4 de julho tornou as reduções fiscais permanentes (imposto corporativo 21%). Com energia barata, isso atrai capital em massa. O problema: o déficit e a dívida aumentam – o déficit deve atingir cerca de 6% do PIB em 2026.
Alemanha – O estímulo pode estar superestimado
O pacote de infraestrutura de 500 mil milhões de euros é promovido como um divisor de águas. A realidade pode ser mais complexa:
Custo energético: as tarifas de eletricidade na Alemanha para a indústria estão entre 15-20 cêntimos/kWh – duas a três vezes mais altas que nos EUA. Um preço industrial de 5 cêntimos/kWh para 2026-2028 apenas alivia sintomas. Para setores intensivos em energia (química, aço, semicondutores), a Alemanha permanece estruturalmente pouco atrativa.
Problemas de implementação: projetos de infraestrutura na Alemanha levam em média 17 anos – sendo 13 anos só para aprovações. O setor da construção relata 250.000 vagas em aberto. Essa ineficiência reduz significativamente os multiplicadores esperados.
Risco político: as eleições estaduais de 2026 podem fazer a AfD tornar-se a força mais forte nos estados (atualmente 25% nas sondagens nacionais). Uma grande coalizão disfuncional bloquearia a implementação do estímulo e ampliaria os spreads alemães.
Dependências externas: parte dos gastos militares flui para sistemas dos EUA (F-35, Patriot, Chinook) – estimulando mais a economia americana do que a alemã.
França e fragmentação da zona euro
A instabilidade política na França continua preocupante: um governo colapsou em outubro de 2025 em 24 horas. O déficit está em cerca de 6% do PIB, a dívida em 113%. Os títulos de dívida franceses agora rendem mais que os espanhóis – um sinal de alerta.
A zona euro cresceu em Q3 de 2025 apenas 0,2% qoq (1,3% anualizado) – bem abaixo dos EUA. Para 2026, espera-se apenas 1,5%. A inflação está em 2,0% (meta do BCE), o desemprego em 6,3%. O BCE pode entrar em um dilema: se o estímulo alemão gerar inflação, teria que subir as taxas – o que prejudicaria países altamente endividados.
Projeções bancárias: consenso com exceções
Para o final de 2026, há unanimidade entre grandes analistas – mais alta do EUR/USD:
Instituição
Projeção EUR/USD final de 2026
Morgan Stanley
1,25
BNP Paribas
1,25
Goldman Sachs
1,25
RBC Capital Markets
1,24
JP Morgan
1,22
ING
1,22–1,25
Commerzbank
1,20
Wells Fargo
1,18–1,20
Para 2027, a faixa se amplia:
Instituição
Projeção EUR/USD final de 2027
Deutsche Bank
1,30
Morgan Stanley
1,27
RBC Capital Markets
1,24
Commerzbank
1,22
Wells Fargo
1,12
O padrão é claro: o lado otimista domina, mas a Wells Fargo posiciona-se de forma defensiva.
Três cenários possíveis para 2026-2027
Cenário base: oscilações tranquilas entre 1,10 e 1,20
As forças opostas permanecem aproximadamente equilibradas. O EUR/USD oscila entre 1,10-1,12 (suportado por diferenças de juros) e 1,18-1,20 (limitado por riscos europeus). A Alemanha implementa parcialmente seu estímulo, os EUA crescem moderadamente entre 1,8-2,2%. Investidores compram nas baixas e vendem nas altas – o curso oscila geralmente entre 1,14 e 1,17.
Cenário de baixa: EUR/USD cai para 1,05-1,10
Os resultados eleitorais da AfD em 2026 desestabilizam o governo, o pacote de estímulo estagna. Os spreads do Bund alemão se ampliam, a crise orçamentária na França piora, o BCE precisa cortar juros. Ao mesmo tempo, os EUA surpreendem positivamente: o boom de IA aumenta a produtividade, a inflação cai para 2%, o Fed pausa em 3,50%. Resultado: o EUR/USD erode para 1,08-1,10 e pode até testar 1,05.
Cenário de alta: Euro em rally para 1,22-1,28
A Alemanha se estabiliza, o estímulo é implementado rapidamente, a situação na França melhora. O crescimento do PIB da zona euro atinge 2% (para condições atuais, de forma transformadora). O BCE sinaliza aumento de juros no final de 2026 para 2027. Ao mesmo tempo, a crise nos EUA se aprofunda: inflação persistente, mercado de trabalho fraco, risco de estagflação. A sucessão de Powell em maio de 2026 intensifica as críticas de Trump ao Fed. Investidores estrangeiros reduzem posições nos EUA, o EUR/USD rompe 1,20 e sobe em direção a 1,22-1,28.
Eventos críticos que determinarão o rumo
2026 traz várias marcas importantes:
Eleições estaduais na Alemanha – decisivas para a implementação do estímulo
Sucessão de Powell (maio de 2026) – sinaliza o rumo do Fed
Desenvolvimento do orçamento na França – risco de fragmentação
Dados de crescimento na Alemanha – validam o cenário de crescimento
Relatórios econômicos dos EUA – determinam pausa do Fed ou novos cortes
Recomendações de negociação: flexibilidade antes de fixar posições
Diante da incerteza, recomenda-se uma abordagem baseada em eventos com gestão de risco rigorosa:
Trader de faixa: comprar entre 1,10-1,12, vender entre 1,18-1,20
Seguidor de tendência: observar a quebra de 1,20 para posições de alta ou a quebra de 1,15 para posições de baixa
Jogador de volatilidade: aproveitar a alta volatilidade, mas com stops apertados
As condições mudam rapidamente – a flexibilidade é essencial.
Principais riscos em destaque
Risco na Alemanha subestimado: uma surpresa da AfD nas eleições pode derrubar toda a narrativa do estímulo e gerar crise política.
Choques geopolíticos: escalada na Ucrânia ou crise energética 2.0 poderiam gerar fluxos de dólares, apesar dos avanços na diversificação europeia.
Resiliência dos EUA subestimada: o boom de IA pode gerar ganhos de produtividade de 2-3% ao ano. Com impostos baixos, energia barata e domínio tecnológico, os EUA permanecem altamente atrativos.
Conclusão: Dois vencedores, um perdedor?
O par EUR/USD enfrenta em 2026-2027 um dilema estrutural. As diferenças de juros sustentam o euro e estabelecem um piso entre 1,10-1,12. A avaliação do dólar estaria 23% supervalorizada, favorecendo o EUR/USD. Mas a fragmentação política na Alemanha (potencial crise em 2026), custos energéticos elevados e a força da economia americana (IA, impostos) levantam questões.
O que vai decidir será: a Alemanha consegue estabilizar politicamente após as eleições de 2026? O estímulo funciona apesar dos obstáculos? A economia dos EUA permanece resiliente?
As respostas determinarão se veremos uma nova dinâmica no EUR/USD – ou se o dólar recupera sua dominância.
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EUR/USD 2026-2027: Após aumento espetacular – Até onde vai a recuperação?
O euro viveu em 2025 uma fase notável de valorização: de 1,04 USD no início do ano para 1,16 USD atualmente – um aumento de mais de 13%. Mas será que esta dinâmica pode continuar ou o par de moedas se encaminha para uma consolidação? A nossa análise mostra: a resposta está no campo de tensão entre três forças concorrentes.
Onde está atualmente o EUR/USD – e como chegou lá?
Os movimentos foram turbulentos: o EUR/USD registou em janeiro um mínimo de 1,0243 (mínimo de 20 anos), depois disparou em abril e marcou em meados de setembro um máximo de 1,1868. Com a cotação atual de 1,16, o par estabiliza-se após ter percorrido uma faixa de negociação de mais de 1.600 pips.
O que impulsionou o euro para cima?
Vários fatores atuaram em sincronia: a política agressiva de tarifas de Trump, cortes de taxas de juros claros pelo Fed, taxas de juros estáveis pelo BCE e o pacote de infraestrutura de 500 mil milhões de euros na Alemanha criaram uma configuração favorável ao euro. Assim, o par rompeu uma tendência de baixa que vinha desde 2014 – um sinal técnico com efeito de sinalização.
Pontos de orientação técnica para traders:
Para cima: a zona 1,1800-1,1920 funciona como resistência importante. Uma quebra acima de 1,20 poderia abrir caminho para 1,22-1,25.
Para baixo: suportes situam-se em 1,1550 e 1,1470. Uma quebra abaixo de 1,15 colocaria em dúvida o cenário de alta e poderia desencadear quedas em direção a 1,10-1,12.
O núcleo da valorização: diferenças de juros e sua mecânica
O principal argumento para uma maior força do euro é: diferenças de juros. O Fed cortou ao todo 50 pontos base em setembro e outubro e sinaliza novos cortes para 3,4% até o final de 2026. O BCE já concluiu seu ciclo de redução – a taxa de depósito permanece em 2,00% desde junho.
A lógica matemática:
Historicamente, uma redução de 100 pontos base na diferença de juros leva a uma ajustamento cambial de 5-8%. Com a diferença atual, o EUR/USD poderia subir de 1,16 para 1,22-1,25. Alguns analistas até consideram que o BCE pode sinalizar aumentos de juros em 2027, caso os estímulos na Alemanha deem frutos. Isso reforçaria ainda mais o efeito.
O outro lado da moeda: por que o euro também poderia fraquejar
Resiliência econômica dos EUA
O crescimento do PIB dos EUA atingiu em Q2 de 2025 um forte 3,8%, impulsionado por investimentos massivos em IA. Ao mesmo tempo, o governo garantiu compromissos de investimento na casa dos bilhões através de negociações tarifárias:
A “One Big Beautiful Bill Act” de 4 de julho tornou as reduções fiscais permanentes (imposto corporativo 21%). Com energia barata, isso atrai capital em massa. O problema: o déficit e a dívida aumentam – o déficit deve atingir cerca de 6% do PIB em 2026.
Alemanha – O estímulo pode estar superestimado
O pacote de infraestrutura de 500 mil milhões de euros é promovido como um divisor de águas. A realidade pode ser mais complexa:
Custo energético: as tarifas de eletricidade na Alemanha para a indústria estão entre 15-20 cêntimos/kWh – duas a três vezes mais altas que nos EUA. Um preço industrial de 5 cêntimos/kWh para 2026-2028 apenas alivia sintomas. Para setores intensivos em energia (química, aço, semicondutores), a Alemanha permanece estruturalmente pouco atrativa.
Problemas de implementação: projetos de infraestrutura na Alemanha levam em média 17 anos – sendo 13 anos só para aprovações. O setor da construção relata 250.000 vagas em aberto. Essa ineficiência reduz significativamente os multiplicadores esperados.
Risco político: as eleições estaduais de 2026 podem fazer a AfD tornar-se a força mais forte nos estados (atualmente 25% nas sondagens nacionais). Uma grande coalizão disfuncional bloquearia a implementação do estímulo e ampliaria os spreads alemães.
Dependências externas: parte dos gastos militares flui para sistemas dos EUA (F-35, Patriot, Chinook) – estimulando mais a economia americana do que a alemã.
França e fragmentação da zona euro
A instabilidade política na França continua preocupante: um governo colapsou em outubro de 2025 em 24 horas. O déficit está em cerca de 6% do PIB, a dívida em 113%. Os títulos de dívida franceses agora rendem mais que os espanhóis – um sinal de alerta.
A zona euro cresceu em Q3 de 2025 apenas 0,2% qoq (1,3% anualizado) – bem abaixo dos EUA. Para 2026, espera-se apenas 1,5%. A inflação está em 2,0% (meta do BCE), o desemprego em 6,3%. O BCE pode entrar em um dilema: se o estímulo alemão gerar inflação, teria que subir as taxas – o que prejudicaria países altamente endividados.
Projeções bancárias: consenso com exceções
Para o final de 2026, há unanimidade entre grandes analistas – mais alta do EUR/USD:
Para 2027, a faixa se amplia:
O padrão é claro: o lado otimista domina, mas a Wells Fargo posiciona-se de forma defensiva.
Três cenários possíveis para 2026-2027
Cenário base: oscilações tranquilas entre 1,10 e 1,20
As forças opostas permanecem aproximadamente equilibradas. O EUR/USD oscila entre 1,10-1,12 (suportado por diferenças de juros) e 1,18-1,20 (limitado por riscos europeus). A Alemanha implementa parcialmente seu estímulo, os EUA crescem moderadamente entre 1,8-2,2%. Investidores compram nas baixas e vendem nas altas – o curso oscila geralmente entre 1,14 e 1,17.
Cenário de baixa: EUR/USD cai para 1,05-1,10
Os resultados eleitorais da AfD em 2026 desestabilizam o governo, o pacote de estímulo estagna. Os spreads do Bund alemão se ampliam, a crise orçamentária na França piora, o BCE precisa cortar juros. Ao mesmo tempo, os EUA surpreendem positivamente: o boom de IA aumenta a produtividade, a inflação cai para 2%, o Fed pausa em 3,50%. Resultado: o EUR/USD erode para 1,08-1,10 e pode até testar 1,05.
Cenário de alta: Euro em rally para 1,22-1,28
A Alemanha se estabiliza, o estímulo é implementado rapidamente, a situação na França melhora. O crescimento do PIB da zona euro atinge 2% (para condições atuais, de forma transformadora). O BCE sinaliza aumento de juros no final de 2026 para 2027. Ao mesmo tempo, a crise nos EUA se aprofunda: inflação persistente, mercado de trabalho fraco, risco de estagflação. A sucessão de Powell em maio de 2026 intensifica as críticas de Trump ao Fed. Investidores estrangeiros reduzem posições nos EUA, o EUR/USD rompe 1,20 e sobe em direção a 1,22-1,28.
Eventos críticos que determinarão o rumo
2026 traz várias marcas importantes:
Recomendações de negociação: flexibilidade antes de fixar posições
Diante da incerteza, recomenda-se uma abordagem baseada em eventos com gestão de risco rigorosa:
As condições mudam rapidamente – a flexibilidade é essencial.
Principais riscos em destaque
Risco na Alemanha subestimado: uma surpresa da AfD nas eleições pode derrubar toda a narrativa do estímulo e gerar crise política.
Choques geopolíticos: escalada na Ucrânia ou crise energética 2.0 poderiam gerar fluxos de dólares, apesar dos avanços na diversificação europeia.
Resiliência dos EUA subestimada: o boom de IA pode gerar ganhos de produtividade de 2-3% ao ano. Com impostos baixos, energia barata e domínio tecnológico, os EUA permanecem altamente atrativos.
Conclusão: Dois vencedores, um perdedor?
O par EUR/USD enfrenta em 2026-2027 um dilema estrutural. As diferenças de juros sustentam o euro e estabelecem um piso entre 1,10-1,12. A avaliação do dólar estaria 23% supervalorizada, favorecendo o EUR/USD. Mas a fragmentação política na Alemanha (potencial crise em 2026), custos energéticos elevados e a força da economia americana (IA, impostos) levantam questões.
O que vai decidir será: a Alemanha consegue estabilizar politicamente após as eleições de 2026? O estímulo funciona apesar dos obstáculos? A economia dos EUA permanece resiliente?
As respostas determinarão se veremos uma nova dinâmica no EUR/USD – ou se o dólar recupera sua dominância.