Políticas dos EUA e do Japão "em sentidos opostos": subida das taxas de juro no Japão concretizada em 80%, mudou o fluxo de dinheiro nos mercados globais?

A decisão do Banco do Japão a 19 de dezembro e a decisão da Reserva Federal dos EUA sobre o corte das taxas de juro vão concretizar-se em breve, e a sobreposição destes dois grandes eventos fará com que o capital global volte a “tomar partido”. Para nós, em vez de nos preocuparmos com as flutuações de curto prazo, é melhor focarmo-nos na lógica central dos ativos: é preciso ter cautela em relação aos ativos de elevado valor que dependem de financiamento barato, enquanto os ativos com fundamentos sólidos e avaliações baixas podem encontrar oportunidades nesta grande redistribuição de capital.

Autor do artigo: Xiuhu

Fonte: MarsBit

O mercado financeiro global em dezembro foi lançado para o centro das atenções por três “grandes espetáculos de política monetária” — além das elevadas expectativas de corte de taxas pela Reserva Federal (os mercados apostam numa probabilidade elevada de corte de 25 pontos base em dezembro) e do tom “falcão” do Banco do Japão (o Bank of America alerta para subida da taxa para 0,75% em dezembro, o valor mais alto desde 1995), há ainda uma alteração fundamental que muitos ignoraram: a Reserva Federal dos EUA pôs oficialmente termo à redução do seu balanço a partir de 1 de dezembro, encerrando assim três anos de aperto quantitativo.

A combinação de “corte de taxas + fim do aperto” nos EUA e “subida de taxas” no Japão está a reescrever completamente o quadro da liquidez global: a Reserva Federal deixa de “sugar” liquidez e prepara-se para “injetar” mais, enquanto o Banco do Japão aproveita para apertar os cordões à bolsa. Entre este afrouxamento e restrição, os 5 biliões de dólares em operações de carry trade com iene enfrentam uma inversão, a reconstrução dos diferenciais de taxas acelera-se e a lógica de avaliação das ações americanas, das criptomoedas e da dívida dos EUA pode ser completamente reescrita. Hoje, vamos desmontar o impacto desta situação, perceber para onde vai o dinheiro e onde se escondem os riscos.

Primeiro, sublinhemos o essencial: a subida das taxas no Japão não é um “ataque surpresa”, há 80% de probabilidade sustentada por estes sinais

Mais do que “se vai subir”, o mercado preocupa-se agora com “como será a subida e o que se segue”. Segundo fontes próximas, os responsáveis do Banco do Japão já estão preparados para subir as taxas na reunião de política monetária que termina a 19 de dezembro, desde que a economia e os mercados financeiros não sofram choques significativos. Os dados da plataforma de previsão Polymarket mostram que a probabilidade de o Banco do Japão subir as taxas em 25 pontos base em dezembro já saltou de 50% para 85%, tornando-se praticamente um “evento provável”.

O contexto central desta subida das taxas é duplo:

Primeiro, a pressão inflacionista interna persiste; o IPC núcleo de Tóquio em novembro subiu 3% em termos homólogos, mantendo-se há 43 meses consecutivos acima da meta de 2%, e a desvalorização do iene aumentou ainda mais os preços dos produtos importados;

Segundo, há apoios económicos: este ano, as empresas japonesas aumentaram os salários em mais de 5% em média, um valor sem precedentes em décadas, o que deu ao banco central confiança na capacidade da economia para suportar uma subida das taxas. Mais importante ainda, o governador do Banco do Japão, Kazuo Ueda, já tinha enviado sinais claros a 1 de dezembro, funcionando como um “spoiler” antecipado — uma parte da estratégia para preparar o mercado e evitar a repetição do “mini-crash” global de agosto passado, quando uma subida inesperada das taxas surpreendeu o mercado.

Impacto central: a sequência das políticas e a direção dos fluxos de capital são a resposta chave

  1. Desmontando a sequência: a lógica subjacente da Reserva Federal “afrouxar primeiro” e do Banco do Japão “apertar depois”

Na linha temporal, a Reserva Federal tem grandes probabilidades de baixar as taxas em 25 pontos base na sua próxima reunião de dezembro, enquanto o Banco do Japão tenciona subir as taxas na reunião de 19 de dezembro. Esta sequência “afrouxamento seguido de aperto” não é casual, mas antes a escolha racional de cada lado de acordo com as suas necessidades económicas, suportada por duas lógicas principais:

Para a Reserva Federal, a combinação de “parar o aperto e depois cortar taxas” é uma “dupla defesa” contra o abrandamento económico. A paragem da redução do balanço a 1 de dezembro foi o primeiro passo — pondo fim ao aperto quantitativo iniciado em 2022; até novembro, o balanço da Fed caiu do pico de 9 biliões para 6,6 biliões de dólares, mas ainda está 2,5 biliões acima do nível pré-pandemia. O objetivo de parar de “sugar liquidez” é aliviar as tensões no mercado monetário e evitar oscilações nas taxas devido à falta de reservas bancárias. Em cima disto, o corte de taxas é o segundo passo, de “estímulo ativo”: o ISM da indústria dos EUA caiu para 47,8 em novembro, abaixo do limiar por 3 meses consecutivos; a inflação PCE núcleo caiu para 2,8%, mas a confiança do consumidor caiu 2,7 pontos percentuais, e a pressão dos juros da dívida federal de 38 biliões de dólares é enorme. A Fed precisa de cortar taxas para baixar custos de financiamento e estabilizar expectativas. Ao agir primeiro, ganha iniciativa de política e deixa margem para eventuais oscilações económicas.

Para o Banco do Japão, “subir depois” é um “ajuste ofensivo” para evitar riscos. Segundo o analista Zhang Ze’en, do Western Securities, o Banco do Japão escolhe subir taxas depois da Fed cortar porque, por um lado, aproveita o período de liquidez mais folgada do dólar para reduzir o impacto interno; por outro lado, como os cortes da Fed vão baixar os juros das obrigações americanas, a subida de taxas no Japão reduz mais rapidamente o diferencial, aumentando o apelo dos ativos denominados em iene e acelerando o repatriamento de capitais. Esta estratégia de “surf no momento” dá ao Japão mais proatividade no processo de normalização monetária.

  1. Capacidade de absorção: subida de taxas no Japão torna-se “depósito natural” do dinheiro libertado pela Fed?

Unindo os dados do M2 americano e as caraterísticas dos fluxos de capital, a possibilidade de o Japão absorver fundos que a Fed irá “libertar” é muito elevada, sustentada por três factos chave:

Primeiro, o M2 dos EUA e a combinação de políticas apontam para uma “dupla injeção” de liquidez. Até novembro de 2025, o M2 americano era de 22,3 biliões de dólares, mais 0,13 biliões que em outubro, e com um crescimento homólogo de 1,4% em novembro — já se nota o efeito do fim do aperto quantitativo. A sobreposição das duas políticas vai ampliar ainda mais a liquidez: deixar de reduzir o balanço significa menos 95 mil milhões de dólares absorvidos por mês; cortar 25 pontos base pode libertar 550 mil milhões; juntos, dezembro será uma “janela de bónus de liquidez” nos EUA. Mas acontece que a rendibilidade dos investimentos americanos está a baixar — o ROE médio das empresas do S&P 500 caiu de 21% para 18,7% — e o novo capital procura alternativas de retorno.

Segundo, a subida de taxas no Japão cria um “efeito de atratividade de rendimento”. Com a taxa japonesa a 0,75%, a yield das obrigações a 10 anos do Japão subiu para 1,910%, reduzindo o diferencial face aos títulos do Tesouro americano (agora em 3,72%) para 1,81 pontos percentuais, o mais baixo desde 2015. Como maior credor mundial, os investidores japoneses detêm 1,189 biliões em dívida americana. Com o aumento do retorno doméstico, o repatriamento acelera: só em novembro, o Japão vendeu 12,7 mil milhões em títulos americanos líquidos.

Por fim, a inversão do carry trade e o aumento da liquidez formam um “encaixe perfeito”. Nos últimos vinte anos, as operações de “empréstimo em ienes para comprar dívida americana” superaram 5 biliões de dólares; a nova liquidez da Fed, somada ao maior apelo dos ativos japoneses, vai inverter esta lógica. Segundo a Capital Economics, se o diferencial EUA-Japão encolher para 1,5 pontos percentuais, pelo menos 1,2 biliões em carry trades serão desfeitos, dos quais cerca de 600 mil milhões poderão regressar ao Japão — suficiente para absorver os 550 mil milhões libertados pelo corte de taxas, além de parte da liquidez poupada pelo fim do aperto. Deste ponto de vista, a subida de taxas no Japão torna-se o “depósito natural” da política expansionista da Fed: ajuda a absorver o excesso de liquidez dos EUA, aliviando a pressão da inflação, e evita a criação de bolhas de ativos por fluxos descontrolados — esta “coordenação implícita” merece atenção.

  1. Reconstrução dos diferenciais: uma “tempestade de reavaliação” nos preços dos ativos

A alteração na sequência das políticas e nos fluxos de capitais está a empurrar os preços dos ativos para um novo ciclo de reavaliação, e as diferenças entre classes de ativos tornam-se cada vez mais evidentes:

  • Ações dos EUA: Pressão a curto prazo, resiliência a longo prazo O corte de taxas pela Fed deveria beneficiar as ações americanas, mas o repatriamento do carry trade causado pela subida no Japão faz contrapeso. Quando Kazuo Ueda sinalizou subida a 1 de dezembro, o Nasdaq caiu 1,2% nesse dia, com Apple, Microsoft e outros gigantes a perderem mais de 2% — estes são os principais destinos do carry trade. Mas a Capital Economics refere que, se a subida das ações americanas se deve à melhoria dos lucros (lucros do S&P 500 cresceram 7,3% no 3º trimestre) e não a uma bolha de avaliação, as quedas futuras serão limitadas.

  • Criptomoedas: Alavancagem alta torna-as “zona crítica” As criptomoedas são um destino importante do carry trade; a contração da liquidez causada pela subida no Japão atinge-as diretamente. O Bitcoin caiu mais de 23% no último mês; em novembro, os ETFs de Bitcoin registaram saídas líquidas de 3,45 mil milhões, dos quais os investidores japoneses representaram 38% das resgates. Com o desmonte contínuo das operações de carry, a volatilidade das criptomoedas vai aumentar ainda mais.

  • Dívida dos EUA: “Braço de ferro” entre pressão vendedora e benefício dos cortes O repatriamento japonês pressiona a venda da dívida americana — em novembro, a yield das obrigações a 10 anos dos EUA subiu de 3,5% para 3,72%. Mas os cortes da Fed vão impulsionar a procura. No geral, espera-se que a yield oscile entre 3,7% e 3,9% até ao final do ano.

Pergunta-chave: 0,75% é expansão ou restrição? Onde está o “ponto final” da subida japonesa?

Muitos leitores perguntam: subir para 0,75% é restritivo? Aqui importa esclarecer — o que define política “expansionista” ou “restritiva” é se a taxa está acima da “taxa neutra” (nível que não estimula nem trava a economia).

Kazuo Ueda afirmou que a taxa neutra no Japão está entre 1% e 2,5%; mesmo com a subida para 0,75%, permanece abaixo desse limiar, ou seja, a política ainda é “expansionista”. Por isso o Banco do Japão insiste que “a subida das taxas não travará a economia” — é apenas um ajuste de “super-expansivo” para “moderadamente expansivo”; só será restritivo se passar de 1% e houver suporte macroeconómico.

Para o futuro, o Bank of America prevê que o Banco do Japão suba as taxas “a cada seis meses”, mas com uma dívida pública de 229,6% do PIB (a mais alta do mundo desenvolvido), subir demasiado depressa aumentaria os juros pagos pelo Estado. Assim, o mais provável é uma subida gradual: 1-2 vezes por ano, 25 pontos base de cada vez.

Reflexão final: Porque é a subida japonesa a “maior incógnita” de dezembro? Sinais-chave na “roadshow” da política

Muitos perguntam porque insistimos que a subida das taxas no Japão é a “maior incógnita” de dezembro nos mercados globais.

Não é pela baixa probabilidade de subida, mas pelas três “contradições” subjacentes, que mantêm a política monetária num estado “ambíguo” — só agora, com sinais claros do banco central, a incógnita vai sendo controlada. Olhando para trás, desde as declarações de Ueda até à aceitação tácita do governo, todo o processo parece um “roadshow de política”, essencialmente para absorver o choque causado pela incerteza.

Primeira contradição: “Pressão inflacionista vs. debilidade económica”. O núcleo do IPC de Tóquio subiu 3% em novembro, há 43 meses acima do objetivo — inflação obriga a subir taxas; mas o PIB do 3º trimestre caiu 1,8% em termos anualizados, o crescimento do consumo desacelerou de 0,4% para 0,1%, e a base económica não suporta um aperto agressivo. Este dilema (“controlar inflação sem sufocar a economia”) deixou o mercado sem saber as prioridades do banco central, até que os aumentos salariais superiores a 5% deram fundamento à subida.

Segunda contradição: “Pressão da dívida vs. mudança de política”. Com uma dívida de 229,6% do PIB, o Japão beneficiou de juros zero ou negativos durante décadas. Subir para 0,75% aumenta a despesa anual em juros em mais de 8 biliões de ienes (1,5% do PIB). Este impasse (“subir taxas aumenta o risco da dívida, não subir deixa a inflação”) tornou a decisão política hesitante, até que a abertura do “período de cortes” pela Fed criou espaço para a subida japonesa.

Terceira contradição: “Responsabilidade global vs. necessidades domésticas”. Como terceira maior economia e centro dos 5 biliões de carry trade, qualquer mudança poderá abalar o capital global — a subida inesperada de agosto passado fez o Nasdaq cair 2,3% num só dia. O banco central precisa de estabilizar o iene e controlar a inflação importada, mas sem ser o “cisne negro” do mercado global. Esta pressão de “equilíbrio interno-externo” tornou a comunicação oficial sempre cautelosa, alimentando especulações sobre o timing e a dimensão da subida.

Foi por causa destas três contradições que a probabilidade de subida passou de “50% em novembro” para “85% agora”, mantendo-se a variável mais difícil de prever em dezembro. O tal “roadshow” político serviu para, através dos sinais graduais de Ueda e das fugas de informação, permitir ao mercado digerir a incerteza — até agora, a venda de dívida japonesa, a ligeira valorização do iene e a volatilidade bolsista mantêm-se sob controlo, mostrando que o “vacina” começa a funcionar.

Hoje, com mais de 80% de probabilidade de subida, a dúvida “vai ou não subir” está praticamente dissipada, mas surgem novas incógnitas — e é nisso que nos concentramos:

Para os investidores, as verdadeiras incógnitas estão em dois pontos:

Primeiro, nas orientações após a subida — o Banco do Japão vai indicar claramente “subidas a cada seis meses” ou manterá uma linguagem ambígua dependente dos dados económicos?

Segundo, nas declarações de Kazuo Ueda — se referir que as negociações salariais da primavera de 2026 são referência chave, isso significa que o ritmo de subidas pode abrandar; caso contrário, pode acelerar. Estes detalhes são a chave para o destino dos fluxos de capital.

A decisão do Banco do Japão a 19 de dezembro e a decisão da Reserva Federal dos EUA sobre o corte das taxas de juro vão concretizar-se em breve, e a sobreposição destes dois grandes eventos fará com que o capital global volte a “tomar partido”. Para nós, em vez de nos preocuparmos com as flutuações de curto prazo, é melhor focarmo-nos na lógica central dos ativos: é preciso ter cautela em relação aos ativos de elevado valor que dependem de financiamento barato, enquanto os ativos com fundamentos sólidos e avaliações baixas podem encontrar oportunidades nesta grande redistribuição de capital.

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